Wednesday, September 29, 2004
Conspiracy Digest-Entrevista 1
CD:Quão sériamente devemos levar a sua fascinante e esclarecedora trilogia Illuminatus!,que escreveu em colaboração com Robert E.Shea?
Wilson:Detestaria ser levado a sério.As pessoas sérias estão sempre tão tristes e contraídas que me dão vontade de dançar nu sobre a relva tocando uma flauta.Como diz Mavis no primeiro volume,é evidente que nada é verdade a não ser que nos faça rir,mas só o compreendemos realmente quando nos faz chorar.A situação básica da humanidade é tão trágica quanto cómica,já que somos macacos domesticados com cérebros maravilhosos de 30 mil milhões de células,as quais só muito raramente usamos com eficácia,devido ao domínio exercido pelas partes mamíferas mais antigas do cérebro.Vivemos no Planeta dos Macacos,meu.É para rir ou pra chorar?Acho que depende da larguesa do nosso sentido de humor.
CD:Especificamente,devemos acreditar realmente que a competição entre sociedades secretas é que origina e orienta as diversas tendências intelectuais,religiosas e artísticas do mundo?Ou o cenário das sociedades secretas será apenas uma paródia das teorias conspiratórias de direita,de uma dramatização de conflito que opôe as correntes autoritárias às libertárias,ou simplesmente da sua própria técnica de lavagem cerebral?
Wilson:Para citar Lichtenberg,"Este livro é um espelho.Um macaco que o fite não vê reflectida a imagem de nenhum filósofo".Assim como a Linda Lovelace,Illuminatus!é tudo para toda a gente.Trata-se do primeiro romance escrito deliberadamente do ponto de vista do agnosticismo multimodelar da física quântica moderna.O romancista que,sentado num pedestal,observa o mundo com o Olho de Deus supostamente objectivo encontra-se tão obsuleto quanto o pregador da esquina que grita,"Venham à minha igreja.Eu é que tenho a única religião verdadeira".Nesta fase da evolução,a única filosofia passível de adopção é o agnosticismo transcendental,ou pluralismo ontológico.Em Illuminatus!,o mosaico da competição entre as conspirações é uma paródia tanto das demologias da Esquerda como da Direita.É também uma proposta séria para um modelo mais einsteiniano e relativista do que as teorias monísticas e newtonianas tão apreciadas pela maioria dos conspiracionistas.O dr.Timothy Leary foi uma das pessoas que melhor parece ter compreendido Illuminatus!Disse-me ele no ano passado que as suas experiências com o DEA,o FBI,a CIA,a OLP,os Weather Underground,os Mansonóides,a Irmandade Ariana,a Al Fatah,etc,foram precisamente iguais às partes mais absurdas de Illuminatus!Tim costuma dizer que,onde quer que nos encontremos,deparamos sempre com as mesmas 24 conspirações.Mencionou especificamente ter identificado,combatendo pelo pátio da prisão de Folsom,os mesmos 24 gangs paleolíticos que reconhecera na Universidade de Harvard.Os de Harvard falavam melhor inglês,é claro.
CD:Como reage à minha teoria segundo a qual os príncipais instigadores não são os cultos religiosos nem as sociedades secretas,que não passam de peões nas mãos dos Banqueiros Internacionais,totalmente amorais?Se bem me recordo,sugere em Illuminatus!que os Banqueiros Internacionais são controlados pelos Illuminati.
Em primeiro lugar,felicito-o por classificar o seu cenário de teoria e não pretender que se trata de um facto experimentalmente demonstrado.Na escala da inteligência,isso eleva-o vários furos acima da maioria dos conspiracionistas,que parecem nunca ter estudado lógica semântica,epistemologia ou método ciêntifico.Julga essa gente qualquer ideia alucinada que lhes entre pelas cabeças adentro deverá ser verdade só porque os faz sentirem-se ainda mais aterrorizados do que dantes.Não sei se já percebeu que a maioria dos conspiracionistas são de facto viciados em adrenalina,que se excitam pregando sustos monumentais a si próprios(e aos outros).É este o mesmo estranho circuito que faz as pessoas irem ver os filmes de horror sádico.
Em segundo lugar,considero a sua teoria tão plausivel como a minha--ou como seis ou sete outras teorias.Em geral,contudo,pergunto-me se os Banqueiros Internacionais,ou qualquer outro gang de piratas,saberão assim tão bem o que se está a passar.Como sucede com todas as outras conspirações,eles gostam de imaginar que se encontram por cima de todos,mas isso não passa de vaidade.Como assinalei no segundo volume de Illuminatus!,a comunicação só é possivel entre iguais.Todas as hierarquias têm as suas comunicações entupidas.Todas as elites do poder sofrem de desorientação progressiva:quanto mais tempo se encontrarem no poder,tanto mais enlouquecerão.Isto sucede porque todos mentem às pessoas que se encontram no poder--uns para escapar ao castigo,outros para lisonjear e buscar favores.Em resultado a elite fica com uma ideia muito distorcida do mundo real.Este princípio aplica-se a todas as estruturas piramidais--exércitos,governos ou empresas.Aplica-se mesmo ás antigas familias patriarcais.
Seja como for,os banqueiros são apenas uma parte de um jogo muito mais vasto e estúpido,no qual dezenas de coligações maquinam e conspiram para enganar e aldrabar as outras.Para compreender as coligações capitalistas,o melhor modelo é a obra Theory of Games and Economic Behavior(teoria dos jogos e do comportamento económico),de Von Neuman e Morgenstern,onde é frisado que cada coligação tenta esconder e acumular sinais importantes.No capitalismo,a informação torna-se também um bem de consumo,o que faz instalar-se o típico comportamento mamífero de acumulação.Quanto mais segredos possuir uma coligação,tanto mais importante julgará ela ser.Mas o facto é que a inteligência depende da troca rápida de sinais,de modo que a acumulação destes("Altamente classificado","Segredo máximo"),e a transmissão de sinais falsos(a politica de mentiras)reduzem o Q.I. dos seus praticantes mais catastroficamente ainda do que a inteligência geral do conjunto da sociedade.A Desorientação Progressiva,como lhe chamei antes,é o destino último de todos os sistemas conspiratórios.Foi por esta razão que o dr. Leary inventou o slogan "Segredos Nunca Mais" para o Starseed Group--uma coligação que vai tentar nesta geração uma mutação tripla,a Migração para o Espaço,mais o Aumento da Inteligência,mais o Prolongamento da Vida(SMI2LE,na feliz abreviatura de Leary)Os segredos são mais perigosos para os seus detentores do que para os que deles se encontram excluidos.É claro que Gandhi e Martin Luther King já o haviam compreendido muito antes de Leary,razão por que anunciavam sempre de antemão aos seus opositores exactamente o que tencionavam fazer,e onde,como e porquê.Este é o único modo de acabarmos de uma vez para sempre com a paranóia que infesta este planeta,de deixarmos o jogo territorial mamífero e passarmos para outro jogo,mais humano e racional.
Penso também que não devemos sobre-estimar o elemento conspiratório da finança,por duas razões.Em primeiro lugar,desde os anos 30 tornou-se impossivel falar de conspirações de banqueiros sem que a maioria do nosso público nos tome logo por nazis ou,no mínimo,anti-semitas.Chama-se a isto uma inferência acrítica,ou associação condicionada,mas a verdade é que,por mais ilógica que seja,o seu uso encontra-se muito vulgarizado.Tenho vindo a atacar os banqueiros desde 1960,e nunca deixei de receber correspondência de dois grupos de idiotas.idiotas judeus que julgam ser eu secretamente um anti-semita,e por isso se zangam comigo,e idiotas anti-semitas que também pensam ser eu secretamente um anti-semita,e se sentem honradíssimos em receber-me no seu asqueroso clube.(O que torna esta equação "antibanqueiro=anti-judeu" totalmente absurda é,evidentemente,o facto dos maiores bancos americanos serem controlados por antigas familias protestantes da Nova Inglaterra--os "ianques" do cenário muio plausível de Carl Oglesby,Cowboys vs. Yankees,no qual o autor sustenta que estes ianques se encontram empenhados num conflito de vida ou morte com os interesses petrolíferos do Texas e outras coligações do Oeste.)
Em segundo lugar,e mais importante,estou convencido de que o problema do sistema bancário não é pessoal mas sim estrutural.Isto é,se amanhã Jesus e os doze apóstolos assumissem a gerência do Banco da Reserva Federal,mas não tivessem permissão para alterar as regras,ele continuaria a ser uma monstruosidade.Por outras palavras,não importa quem sejam os jogadores.É o próprio jogo,o monopólio da emissão de dinheiro,que constitui o problema.
Nada disto quer dizer,é claro,que os banqueiros não conspirem--assim como a gente do petrólio conspira,ou os contrabandistas de marijuana conspiram,ou as cliques que dirigem o mundo das artes,etc.Como Adam Smith disse há mais de 200 anos,"Pessoas da mesma profissão nunca se reunem senão para conspirar contra o público em geral".
Vejo o jogo do poder como assentando em três níveis de força e fraude.Em primeiro lugar,o mais antigo e ainda o mais forte é a extorsão praticada pelo governo,o monopólio da força(força militar,força policial,etc.),
que permite ao grupo governante receber tributo(impostos)das massas escravizadas ou iludidas.O segundo nível,derivado desta conquista primordial,é a extorsão praticada pelos senhorios,o monopólio mamífero do território,que permite aos parentes do rei(os senhores da terra)ou aos seus sucessores,os actuais "senhorios", receberem tributo (arrendamento)dos que vivem no interior do seu território.O arrendamento é filho do fisco,o segundo grau do mesmo esquema de extorsão.O terceiro nível,e históricamente o mais recente,é a extursão da usura,o monopólio da emissão de moeda,que permite aos senhores do dinheiro receberem tributo(juros) com a criação de moeda ou crédito,e com todas as fases da circulação contínua dessa moeda ou crédito.O juro é filho do arrendamento,o arrendamento do dinheiro.Já que na minha opinião,e contrariamente ao seu modelo,a maioria das pessoas que se dedicam a estas práticas nefastas são pouquissimo propensas a reconhecer o que realmente fazem,pois encontram-se viciadas nas mesmas hipocrisias que o resto da humanidade,acho que todos os grupos poderosos acreditam sinceramente que o que estão a fazer é bom,e que quem os atacar só pode ser um louco revolucionário.À excepção dos Klingões do Star Trek,nunca encontrei um verdadeiro predador que se justificasse em termos maquiavélicos.Por mais ingénuo que possa parecer,acho que Saroyan estava certo ao dizer que "aos seus próprios olhos,todos os homens são bons".
Especificamente,não consigo imaginar o Rockefeller e os seus amigos conversando entre si como antiquados vilões teatrais,gabando-se do modo como "enganam" e "exploram" o resto de nós(como voçê os representa no seu livro The Ocult Technology of Power,de outro modo uma obra excelente).Eles falam é de "manter a ordem civilizada" e outras coisas do género.Este é o tipo de linguagem que usa Carrol Quigley,o único historiador do Sistema que realmente revelou o que se passa por detrás das cortinas.Podemos encontrar esta mesma imagem de autolisonja no relatório da Comissão Trilateral,the Crises of Democracy.Não devemos surpreender-nos com isto.Todas as outras coligações também se consideram a si próprias como os Bons.Toda a gente acha que a competição ou as forças insurrecionais é que são os Maus.
CD: Sendo embora possivel que os conspiracionistas não passem de "viciados em adrenalina",não será também correcto dizer que as "almas confiantes",muito mais vulgares e respeitáveis,são autopacificadoras,receando considerar teorias da realidade assustadoras por mais convicentes que sejam as provas?
Wilson: Absolutamente!O primeiro circuito do sistema nervoso,a impressão infantil da biossobrevivência,tende a produzir um programa robótico de confiança-dependência-optimismo,ou então de suspeita-medo-fuga,que geralmente se mantém intacto durante toda a vida.Os dois extremos dessa impressão são essencialmente mecânicos.Illuminatus! pretende ser um choque eléctrico ontológico destinado a substituir estas impressões robóticas por alguma actividade cortical a sério.
Wilson:Detestaria ser levado a sério.As pessoas sérias estão sempre tão tristes e contraídas que me dão vontade de dançar nu sobre a relva tocando uma flauta.Como diz Mavis no primeiro volume,é evidente que nada é verdade a não ser que nos faça rir,mas só o compreendemos realmente quando nos faz chorar.A situação básica da humanidade é tão trágica quanto cómica,já que somos macacos domesticados com cérebros maravilhosos de 30 mil milhões de células,as quais só muito raramente usamos com eficácia,devido ao domínio exercido pelas partes mamíferas mais antigas do cérebro.Vivemos no Planeta dos Macacos,meu.É para rir ou pra chorar?Acho que depende da larguesa do nosso sentido de humor.
CD:Especificamente,devemos acreditar realmente que a competição entre sociedades secretas é que origina e orienta as diversas tendências intelectuais,religiosas e artísticas do mundo?Ou o cenário das sociedades secretas será apenas uma paródia das teorias conspiratórias de direita,de uma dramatização de conflito que opôe as correntes autoritárias às libertárias,ou simplesmente da sua própria técnica de lavagem cerebral?
Wilson:Para citar Lichtenberg,"Este livro é um espelho.Um macaco que o fite não vê reflectida a imagem de nenhum filósofo".Assim como a Linda Lovelace,Illuminatus!é tudo para toda a gente.Trata-se do primeiro romance escrito deliberadamente do ponto de vista do agnosticismo multimodelar da física quântica moderna.O romancista que,sentado num pedestal,observa o mundo com o Olho de Deus supostamente objectivo encontra-se tão obsuleto quanto o pregador da esquina que grita,"Venham à minha igreja.Eu é que tenho a única religião verdadeira".Nesta fase da evolução,a única filosofia passível de adopção é o agnosticismo transcendental,ou pluralismo ontológico.Em Illuminatus!,o mosaico da competição entre as conspirações é uma paródia tanto das demologias da Esquerda como da Direita.É também uma proposta séria para um modelo mais einsteiniano e relativista do que as teorias monísticas e newtonianas tão apreciadas pela maioria dos conspiracionistas.O dr.Timothy Leary foi uma das pessoas que melhor parece ter compreendido Illuminatus!Disse-me ele no ano passado que as suas experiências com o DEA,o FBI,a CIA,a OLP,os Weather Underground,os Mansonóides,a Irmandade Ariana,a Al Fatah,etc,foram precisamente iguais às partes mais absurdas de Illuminatus!Tim costuma dizer que,onde quer que nos encontremos,deparamos sempre com as mesmas 24 conspirações.Mencionou especificamente ter identificado,combatendo pelo pátio da prisão de Folsom,os mesmos 24 gangs paleolíticos que reconhecera na Universidade de Harvard.Os de Harvard falavam melhor inglês,é claro.
CD:Como reage à minha teoria segundo a qual os príncipais instigadores não são os cultos religiosos nem as sociedades secretas,que não passam de peões nas mãos dos Banqueiros Internacionais,totalmente amorais?Se bem me recordo,sugere em Illuminatus!que os Banqueiros Internacionais são controlados pelos Illuminati.
Em primeiro lugar,felicito-o por classificar o seu cenário de teoria e não pretender que se trata de um facto experimentalmente demonstrado.Na escala da inteligência,isso eleva-o vários furos acima da maioria dos conspiracionistas,que parecem nunca ter estudado lógica semântica,epistemologia ou método ciêntifico.Julga essa gente qualquer ideia alucinada que lhes entre pelas cabeças adentro deverá ser verdade só porque os faz sentirem-se ainda mais aterrorizados do que dantes.Não sei se já percebeu que a maioria dos conspiracionistas são de facto viciados em adrenalina,que se excitam pregando sustos monumentais a si próprios(e aos outros).É este o mesmo estranho circuito que faz as pessoas irem ver os filmes de horror sádico.
Em segundo lugar,considero a sua teoria tão plausivel como a minha--ou como seis ou sete outras teorias.Em geral,contudo,pergunto-me se os Banqueiros Internacionais,ou qualquer outro gang de piratas,saberão assim tão bem o que se está a passar.Como sucede com todas as outras conspirações,eles gostam de imaginar que se encontram por cima de todos,mas isso não passa de vaidade.Como assinalei no segundo volume de Illuminatus!,a comunicação só é possivel entre iguais.Todas as hierarquias têm as suas comunicações entupidas.Todas as elites do poder sofrem de desorientação progressiva:quanto mais tempo se encontrarem no poder,tanto mais enlouquecerão.Isto sucede porque todos mentem às pessoas que se encontram no poder--uns para escapar ao castigo,outros para lisonjear e buscar favores.Em resultado a elite fica com uma ideia muito distorcida do mundo real.Este princípio aplica-se a todas as estruturas piramidais--exércitos,governos ou empresas.Aplica-se mesmo ás antigas familias patriarcais.
Seja como for,os banqueiros são apenas uma parte de um jogo muito mais vasto e estúpido,no qual dezenas de coligações maquinam e conspiram para enganar e aldrabar as outras.Para compreender as coligações capitalistas,o melhor modelo é a obra Theory of Games and Economic Behavior(teoria dos jogos e do comportamento económico),de Von Neuman e Morgenstern,onde é frisado que cada coligação tenta esconder e acumular sinais importantes.No capitalismo,a informação torna-se também um bem de consumo,o que faz instalar-se o típico comportamento mamífero de acumulação.Quanto mais segredos possuir uma coligação,tanto mais importante julgará ela ser.Mas o facto é que a inteligência depende da troca rápida de sinais,de modo que a acumulação destes("Altamente classificado","Segredo máximo"),e a transmissão de sinais falsos(a politica de mentiras)reduzem o Q.I. dos seus praticantes mais catastroficamente ainda do que a inteligência geral do conjunto da sociedade.A Desorientação Progressiva,como lhe chamei antes,é o destino último de todos os sistemas conspiratórios.Foi por esta razão que o dr. Leary inventou o slogan "Segredos Nunca Mais" para o Starseed Group--uma coligação que vai tentar nesta geração uma mutação tripla,a Migração para o Espaço,mais o Aumento da Inteligência,mais o Prolongamento da Vida(SMI2LE,na feliz abreviatura de Leary)Os segredos são mais perigosos para os seus detentores do que para os que deles se encontram excluidos.É claro que Gandhi e Martin Luther King já o haviam compreendido muito antes de Leary,razão por que anunciavam sempre de antemão aos seus opositores exactamente o que tencionavam fazer,e onde,como e porquê.Este é o único modo de acabarmos de uma vez para sempre com a paranóia que infesta este planeta,de deixarmos o jogo territorial mamífero e passarmos para outro jogo,mais humano e racional.
Penso também que não devemos sobre-estimar o elemento conspiratório da finança,por duas razões.Em primeiro lugar,desde os anos 30 tornou-se impossivel falar de conspirações de banqueiros sem que a maioria do nosso público nos tome logo por nazis ou,no mínimo,anti-semitas.Chama-se a isto uma inferência acrítica,ou associação condicionada,mas a verdade é que,por mais ilógica que seja,o seu uso encontra-se muito vulgarizado.Tenho vindo a atacar os banqueiros desde 1960,e nunca deixei de receber correspondência de dois grupos de idiotas.idiotas judeus que julgam ser eu secretamente um anti-semita,e por isso se zangam comigo,e idiotas anti-semitas que também pensam ser eu secretamente um anti-semita,e se sentem honradíssimos em receber-me no seu asqueroso clube.(O que torna esta equação "antibanqueiro=anti-judeu" totalmente absurda é,evidentemente,o facto dos maiores bancos americanos serem controlados por antigas familias protestantes da Nova Inglaterra--os "ianques" do cenário muio plausível de Carl Oglesby,Cowboys vs. Yankees,no qual o autor sustenta que estes ianques se encontram empenhados num conflito de vida ou morte com os interesses petrolíferos do Texas e outras coligações do Oeste.)
Em segundo lugar,e mais importante,estou convencido de que o problema do sistema bancário não é pessoal mas sim estrutural.Isto é,se amanhã Jesus e os doze apóstolos assumissem a gerência do Banco da Reserva Federal,mas não tivessem permissão para alterar as regras,ele continuaria a ser uma monstruosidade.Por outras palavras,não importa quem sejam os jogadores.É o próprio jogo,o monopólio da emissão de dinheiro,que constitui o problema.
Nada disto quer dizer,é claro,que os banqueiros não conspirem--assim como a gente do petrólio conspira,ou os contrabandistas de marijuana conspiram,ou as cliques que dirigem o mundo das artes,etc.Como Adam Smith disse há mais de 200 anos,"Pessoas da mesma profissão nunca se reunem senão para conspirar contra o público em geral".
Vejo o jogo do poder como assentando em três níveis de força e fraude.Em primeiro lugar,o mais antigo e ainda o mais forte é a extorsão praticada pelo governo,o monopólio da força(força militar,força policial,etc.),
que permite ao grupo governante receber tributo(impostos)das massas escravizadas ou iludidas.O segundo nível,derivado desta conquista primordial,é a extorsão praticada pelos senhorios,o monopólio mamífero do território,que permite aos parentes do rei(os senhores da terra)ou aos seus sucessores,os actuais "senhorios", receberem tributo (arrendamento)dos que vivem no interior do seu território.O arrendamento é filho do fisco,o segundo grau do mesmo esquema de extorsão.O terceiro nível,e históricamente o mais recente,é a extursão da usura,o monopólio da emissão de moeda,que permite aos senhores do dinheiro receberem tributo(juros) com a criação de moeda ou crédito,e com todas as fases da circulação contínua dessa moeda ou crédito.O juro é filho do arrendamento,o arrendamento do dinheiro.Já que na minha opinião,e contrariamente ao seu modelo,a maioria das pessoas que se dedicam a estas práticas nefastas são pouquissimo propensas a reconhecer o que realmente fazem,pois encontram-se viciadas nas mesmas hipocrisias que o resto da humanidade,acho que todos os grupos poderosos acreditam sinceramente que o que estão a fazer é bom,e que quem os atacar só pode ser um louco revolucionário.À excepção dos Klingões do Star Trek,nunca encontrei um verdadeiro predador que se justificasse em termos maquiavélicos.Por mais ingénuo que possa parecer,acho que Saroyan estava certo ao dizer que "aos seus próprios olhos,todos os homens são bons".
Especificamente,não consigo imaginar o Rockefeller e os seus amigos conversando entre si como antiquados vilões teatrais,gabando-se do modo como "enganam" e "exploram" o resto de nós(como voçê os representa no seu livro The Ocult Technology of Power,de outro modo uma obra excelente).Eles falam é de "manter a ordem civilizada" e outras coisas do género.Este é o tipo de linguagem que usa Carrol Quigley,o único historiador do Sistema que realmente revelou o que se passa por detrás das cortinas.Podemos encontrar esta mesma imagem de autolisonja no relatório da Comissão Trilateral,the Crises of Democracy.Não devemos surpreender-nos com isto.Todas as outras coligações também se consideram a si próprias como os Bons.Toda a gente acha que a competição ou as forças insurrecionais é que são os Maus.
CD: Sendo embora possivel que os conspiracionistas não passem de "viciados em adrenalina",não será também correcto dizer que as "almas confiantes",muito mais vulgares e respeitáveis,são autopacificadoras,receando considerar teorias da realidade assustadoras por mais convicentes que sejam as provas?
Wilson: Absolutamente!O primeiro circuito do sistema nervoso,a impressão infantil da biossobrevivência,tende a produzir um programa robótico de confiança-dependência-optimismo,ou então de suspeita-medo-fuga,que geralmente se mantém intacto durante toda a vida.Os dois extremos dessa impressão são essencialmente mecânicos.Illuminatus! pretende ser um choque eléctrico ontológico destinado a substituir estas impressões robóticas por alguma actividade cortical a sério.