Tuesday, January 25, 2005

 

O Mundo de Orwell no Século XXI

Guerra é Paz;Liberdade é Escravidão;Ignorância é Força.
(in 1984 de George Orwell)

Comparadas com as actuais,todas as tiranias do passado foram tímidas e ineficazes.Os grupos dominantes,até certo ponto,sempre se deixaram contaminar pelas ideias liberais,e permitiam que inúmeros domínios escapassem ao seu controlo,contentando-se em tomar apenas em consideração actos explícitos,sem se interessarem pelo que pensavam os súbditos.Pelos padrões actuais,até a Igreja Católica da Idade Média foi tolerante.Explica-se isto em parte pelo facto de no passado nenhum governo ter capacidade para manter os cidadãos sob vigilância constante.A invenção da imprensa,no entanto,tornou mais fácil manipular a opinião pública,e o cinema e a rádio levaram ainda mais longe o processo.Com o desenvolvimento da televisão e os avanços técnicos que tornaram possivel emissão e recepção simultâneas através do mesmo aparelho,a vida privada acabou.Cada cidadão,ou pelo menos cada cidadão suficientemente importante para valer a pena vijiá-lo,pode ser mantido vinte e quatro horas debaixo dos olhos da polícia e sob a influência da propaganda oficial,com todos os outros canais de comunicação cortados.A possibilidade de impor a todos os súbditos não só obediência absoluta à vontade do Estado,mas também uma absoluta uniformidade de opinião,existe agora pela primeira vez.
Segundo Orwell,Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é uma sátira,onde aliás se detecta inspiração swifteana.De aparência naturalista,trata das realidades e do terror do poder político,não apenas num determinado país,mas no mundo--num mundo uniformizado.Foi escrito como um ataque a todos os factores que na sociedade moderna podem conduzir a uma vida de privação e embrutecimento,não pretende ser a profecia de coisa nenhuma.A previsão do mundo descrito por Orwell alicerça-se num vasto conjunto de elementos politicos e tecnológicos comuns a todas as sociedades industriais.Em diversos textos ensaísticos anteriores,Orwell abordou nomeadamente a organização contemporânea da linguagem sistematicamente produtora da mentira,através do discurso político ou jornalístico,temática esta central no seu romance.
Do pós-guerra aos nossos dias,a imbricação económica dos aparentemente diferentes sistemas políticos,tendendo à sua uniformização,e a evolução no sentido totalitário,por via da tecnologia,das chamadas sociedades democráticas,tor-
nam hoje de imediato reconheciveis situações e personagens,não como puras invenções,mas como conjecturas realizadas ou em realização.

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